top of page

Os Eventos do dia 8 de Janeiro em Brasília

Quais foram as causas e consequências deste momento histórico?


Por Gabriel Nogueira




O ex-presidente da república, Jair Messias Bolsonaro - Imagem por Alan Santos


Domingo, dia 8 de janeiro de 2023, uma data que entrará para a história do Brasil. O motivo da tamanha importância desta data? Manifestantes acampados em frente a praça dos três poderes invadiram o Congresso, Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, causando grandes danos materiais.


Causas

Para compreender melhor o ocorrido, é preciso entender primeiramente o que levou milhares de pessoas a uma manifestação de tamanha proporção, começando pela eleição presidencial de 2022.


Com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), muitos apoiadores de Bolsonaro colocaram em disputa a integridade das urnas e do sistema eleitoral brasileiro. Bolsonaro e seus apoiadores já haviam colocado a segurança das urnas eletrônicas em questão durante todo o processo eleitoral, mas foram incapazes de apresentar provas concretas de qualquer falha no sistema.


Após processos de fiscalizações por parte de diversas instituições, foi determinado por estas que não havia indícios de fraude. Em um trecho do relatório de 63 páginas publicado pelo Ministério da Defesa é dito "Conclui-se que a verificação da correção da contabilização dos votos, por meio da comparação dos Boletins de Urnas (BU) impressos com dados disponibilizados pelo TSE, ocorreu sem apresentar inconformidade".


Esse veredito não concordava com as esperanças dos Bolsonaristas, que acreditavam que este relatório fosse comprovar a suposta fraude.


No entanto, um ponto de grande contestação do Bolsonarismo foi a falta de transparência do TSE com relação aos códigos fonte das urnas que nunca foram revelados, nem ao público, nem às forças armadas.


As forças armadas também criticaram o sistema de checagem das urnas eletrônicas, no mesmo relatório citado previamente; "Observou-se que, devido à complexidade do SEV (sistema eletrônico de votação) e à falta de esclarecimentos técnicos oportunos e de acesso aos conteúdos de programas [...] não foi possível fiscalizar o sistema completamente, o que demanda a adoção de melhorias."


Todos esses fatores, combinados com uma falta de presença pública por parte de Jair Bolsonaro, levaram os apoiadores deste às ruas. Em particular, os manifestantes se aglomeravam em frente aos quartéis militares espalhados por todo o Brasil. Nesses protestos, os apoiadores do ex-presidente pediam para que as forças armadas usassem seu poder constitucional de moderador para intervir na troca de governo e impedir a posse do presidente Lula.


Isso, no entanto, não teve efeito algum, e as forças armadas não se envolveram no processo eleitoral.


Esse estado de insatisfação com essas atitudes tomadas tanto pelo ex-presidente Bolsonaro, quanto pelas forças armadas, ajudaram em parte a radicalizar esses grupos, os-dando a ideia que deveriam tomar mais atitudes para “proteger” aquilo que acreditavam estar certo.


Acontecimento

Os eventos do dia 8 começam com a posse do presidente Lula. Até aquele momento, vários grupos Bolsonaristas ainda mantinham esperança de que as forças armadas pudessem intervir para impedir esse acontecimento, porém, nada aconteceu, e Lula recebeu a faixa presidencial junto de vários representantes do povo brasileiro.


Para muitos, isso foi uma chamada à ação, e começou a mobilização de milhares de pessoas para ir a Brasília. Através de grupos de WhatsApp, foi marcado o protesto para o dia 8 de janeiro, onde as pessoas iriam se reunir em frente ao Quartel General de Brasília e na Praça dos Três Poderes.


Imagens de grupos Bolsonaristas de WhatsApp e Telegram detalhando a mobilização para Brasília. Imagem por G1


Com a chegada dessas pessoas, aproximadamente 4 mil, em Brasília, os protestos que já estavam ocorrendo em frente ao QG e a Praça dos Três Poderes ganharam mais força.


Na manhã do dia 8, os manifestantes que estavam em frente ao QG começaram a longa caminhada em direção ao congresso, onde, por volta das 15h, os manifestantes quebraram o perímetro estabelecido pela Polícia Militar de Brasília, e sobem a rampa do Congresso. De lá, a multidão invade o plenário do Senado e o Salão Verde da Câmara.


Simultaneamente, o Palácio do Planalto é invadido, e os manifestantes usam mangueiras de incêndio para inundar o chão. Cadeiras e móveis são lançados para fora, e importantes peças históricas foram destruídas, como um relógio do século XVIII, trazido ao Brasil pela corte de Dom João VI, e uma pintura de Di Cavalcanti, ambos em exposição no Palácio do Planalto.


A massa invadiu também o Supremo Tribunal Federal, onde pedras foram lançadas contra os vidros da fachada, e uma porta com o nome do ministro Alexandre de Moraes foi removida e levada.

Por volta das 17:30h, os prédios foram desocupados, e a multidão se reuniu em frente ao congresso, onde a polícia tentou dispersar eles com uso de jatos de água. A revolta foi finalmente reprimida.



Repercussão

Por volta das 18:30h do mesmo dia, o Advogado Geral da União (AGU), Jorge Messias, pede a prisão em flagrante dos criminosos, e pede também a prisão do Secretário da Segurança do Distrito Federal, culpando este de responsabilidade pelos acontecimentos do dia.


O ocorrido está sendo considerado uma tentativa de um golpe de estado visando restaurar Jair Bolsonaro ao controle do executivo. Os envolvidos são considerados terroristas e golpistas por muitos na grande mídia e população de modo geral. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Ipsos, 81% dos entrevistados, habitantes de 5 estados da federação, não apoiam os atos dos extremistas.


Consequências

Após os protestos, milhares de pessoas foram detidas pela polícia, mantidas em um ginásio da Polícia Federal.




No total, em torno de 1.400 pessoas foram presas pelo ministro Alexandre de Moraes, 942 dos quais tiveram sua prisão mantida, na forma de prisão preventiva. Outros 464 presos foram soltos condicionalmente, e estão tendo que usar tornozeleiras, ou outras medidas cautelares.






O ministro Alexandre de Moraes em meio aos estragos causados pelos manifestantes - Imagem por Rosinei Coutinho


Os presos estão sendo acusados dos seguintes crimes: atos terroristas, inclusive preparatórios, associação criminosa, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, ameaça, perseguição e incitação ao crime.


Em fala à imprensa, Alexandre de Moraes disse que "houve flagrante afronta à manutenção do estado democrático de direito, em evidente descompasso com a garantia da liberdade de expressão".


Podemos esperar o julgamento desses casos em breve.


bottom of page